quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

Mar de lágrimas

Do passadiço, vejo apenas azul
Nesse mar infinito que corta o sul
Marasmo me acompanha
A carta náutica não me engana
Distância não se acaba
Lembrança que da cabeça não me passa
Azul é a cor dos seus olhos
Derramo a saudade no inextinguível
Diante de tanta água, cada lágrima é invisível
Circundo meu olhar
Descubro que eu criei este mar

Arte na masmorra

Dentro do castelo suntuoso estava camuflada
A arte que brotava da masmorra
Nos bastidores daquele pérfido mundo
O plebeu expressou o que tinha de mais profundo
Causou despeito na corte
Sua cabeça foi posta a prêmio
Ao invés da guilhotina, a condecoração
Ocupa agora o trono, há demasiada exposição
Agora no poder receia ser medíocre
Cogita retorno ao refúgio
Mais fácil ser singular entre os banais
Do que sobressair diante dos sensacionais

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

Abstração

Precisei me distanciar da certeira concepção generalizada
Mesmo sabendo do que a maioria aceita de jeito passivo
Optei pelo desligamento total desse universo permissivo
Sufocam-me com o que afirmam ser ululante
Não concordo com o que pensam ser redundante
Minha originalidade de ideias permanece incólume
Ainda que imerso em um mar de obstáculos
Oportunizo meus diversos momentos de evasão
Mesmo que cause em alguns, sinais de rejeição
Minha adaptação requer abstração

O casulo de Danilo

Prefiro ser reservado
Exposição atormenta
Intensifica expectativas
Construo minha seda
Para me reservar
Reservar o direito
À discrição
Melhor surpreender
Do que ficar esperando efeitos
Guardo em casulo
Meu charme e inteligência
Para com simplicidade
Impressionar
Fora desse casulo
Com as surpresas de Danilo

Eterno incomodado

Obstinado, ele traz seu plano mirabolantemente armado
Enquanto o outro adapta-se à estabilidade
Este se vê como um eterno incomodado
Porque tem ciência da sua capacidade
Não importa o quão profunda é a mesmice que o outro lhe apresenta
Mais cedo do que imagina, este alcançará pleno voo
Findará a amarga fase de enjoo
Logo suas metas serão táteis
Felicidade e sucesso chegarão fáceis
A este que rejeita reprises
Para aquele, não passam de sandices
Mas na ânsia por estreias está a solução
Para a incômoda acomodação

Calvície

Ele não se aquieta, mas todos só vêem nele mansidão
Irrita-se com pequenos fatos, mas para muitos ele é tolerante
Um dia ele não mais agüenta e se exaspera
Aí perde a razão que ilusoriamente tivera
Antes extravasasse cada incômodo que sentisse
Talvez não tivesse essa calvície
Precoce para sua tenra idade
Mas reflexo de sua responsabilidade

Sapo perfeito

Insistem em dizer que sou príncipe
Elogios não me iludem
Os defeitos são visíveis
Na minha auto-imagem
Não vejo beleza
De que adiantam educação e carinho
Se no final das contas
Percebo que sou um anfíbio
Dual para me adaptar aos universos
Rugoso para ser aceito
Do jeito que sou
Um sapo perfeito

Razão e emoção

Os pés poderiam permanecer no chão
Mas flutuam...
Nem sempre é possível ser racional
Sofro tempestades cerebrais
Furacões emocionais
Exagero?
Sou intenso em tudo que faço e penso
Por vezes, sou repetitivo
Repito para afirmar
E me assegurar de que há razão
Onde insisto só haver coração

Intimidade na palma da mão

Há algo mais íntimo que um beijo na palma da mão?
Mão que guia, toca e afaga somente o que se deseja
Receber um beijo na palma da mão
Causa estranheza
A alusão à sensualidade existe
Mas não há prova mais sincera
Intimidade e respeito
Combinam perfeito

Amor de irmão

Sou parte sua
Sua semelhança
Sua influência
Influência que determinou minhas virtudes
Sou feliz conservando esses maiores valores
Mas também existem marcas
Que para serem saradas
Precisam de afastamento
Isso não é abandono
É evasão para amadurecimento
Para que esse amor
Se torne ainda maior
Melhor
Amor de irmão